Após o Natal e até ao fim do mês de Janeiro,
grupos de homens e mulheres, jovens e crianças, com ou sem instrumentos
musicais, iam cantar, de porta em porta, para anunciar o nascimento do Deus-Menino:
«’Inda agora
aqui cheguei, |
Mal pus o pé nesta escada, |
Qu’aqui mora gente honrada. |
Avante,
pastores, |
Há quem diferencie «Os Reis» d’«As Janeiras», defendendo que aqueles cantar-se-iam até ao dia de Reis:
«Hoje é dia
cinco,
Amanhã é dia seis,
Viemos dar Boas Festas
E também cantar os Reis». |
enquanto que as Janeiras cantar-se-iam,
essencialmente, desde essa data até ao fim do mês de Janeiro, sendo que
o tema das quadras também mudariam um pouco:
«Quem diremos
nós que viva,
No ramo da salsa crua,
Viv’à menina da casa
Qu’alumia toda a rua. |
Quem diremos
nós que viva,
No pêlo do cobertor,
Viv’ó menino da casa
Qu’anda a estudar p’ra dôtor.» |
Quem diremos
nós que viva,
Nós não queremos ficar mal,
Vivam os patrões desta casa,
Vivam todos em geral. |
No final, a porta da casa abria-se e os
donos ofereciam fumeiro, nozes, castanhas, vinho, etc.
Quando alguma porta não se abria, todos
diziam em uníssono: «Esta casa cheira a unto; morreu aqui algum
defunto».
in http://www.folclore-online.com
Ainda relativamente ao Reis, pouco se sabe sobre a sua origem, mas reza a lenda que um dos Reis era negro africano, o outro branco europeu e o terceiro moreno (assírio ou persa) representando assim a humanidade conhecida na época.
Festa dos Rapazes no Nordeste Transmontanos
A quadra do Natal e dos Reis no nordeste transmontano é diferente de
qualquer outra parte do mundo. Os declives das serras e das montanhas
dificultaram durante séculos a comunicação entre povos mas permitiu a
sobrevivência de antigas tradições. É o caso da Festa dos Rapazes, que
ocorre em na altura do Natal e, em muitos casos, no Carnaval, como
memória viva de ritos ancestrais, apenas com algumas variantes de
localidade em localidade. Na festa dos rapazes, durante dois dias, os
rapazes solteiros comandam a vida nas aldeias. Com origem nos rituais
pagãos do solstício de Inverno, esta festa celebra o início de um novo
ciclo agrícola e para os rapazes significa também a passagem para a
idade adulta. A festa começa logo de madrugada, com o gaiteiro que
acorda toda a aldeia com a sua gaita-de-foles. Os mordomos, jovens
responsáveis pela organização da festa, percorrem as ruas seguidos dos
"caretos", criaturas estranhas vestindo trajes bizarros, com chocalhos e
fitas penduradas e exibindo máscaras diabólicas. Dançam, pulam,
rodopiam e fazem grande algazarra. Por detrás da máscara que lhes
protege a identidade, cometem os maiores impropérios e assustam tudo e
todos e roubam o fumeiro das casas para ser comido no final do dia em
convívio. Na aldeia de Vale de Salgueiro, no concelho de Mirandela, há
uma forma bem original de assinalar o Dia de Reis, também chamada Festa
dos Rapazes em honra de Santo Estêvão, afirmando-se uma manifestação
plena de tipicismo e de enorme tradição popular.
Todos os anos, é
escolhido alguém para protagonizar a figura do rei, que organiza a
festa e traz consigo uma coroa carregada de ouro emprestado pelos
habitantes, que vale cerca de 30 mil euros. Também dezenas de crianças
andam pelas ruas com maços de tabaco e têm permissão dos próprios pais
para fumar, mas só durante estes dias. A festa termina com a celebração
da missa, ocasião aproveitada para colocar a coroa noutro habitante da
aldeia, que terá a responsabilidade de organizar a próxima festa. No
concelho de Bragança, a tradição repete-se por várias aldeias,
especialmente na corda da Lombada, como Varge, Babe e Baçal. A festa
reúne todos os homens solteiros na noite de 5 de Janeiro num jantar
comunitário preparado pelas moças de aldeia. Na madrugada do dia
seguinte vestem-se de caretos e lá vão eles assustar tudo quanto é povo,
e exigir o tributo dos reis que depois enfiam no “surrão” (saco dos
pastores), que depois será servido num farto almoço. Uma tradição que se
repete também em algumas aldeias do concelho de Vinhais (Ousilhão),
Macedo de Cavaleiros (Podençe) e Mogadouro (Bemposta, Bruçó e Vale
Porco). Únicas na região transmontana, estas festividades perdem-se na
memória dos mais velhos mas repetem-se todos os anos com a mesma alegria
e vivacidade como se fosse a primeira vez. A festa dos rapazes, antes
apenas reservada aos habitantes locais, tem vindo a ser cada vez mais
procurada por turistas curiosos que nesta altura do ano, se deslocam à
região transmontana para presenciar esta manifestação pagã peculiar.
in http://www.welcomenordeste.net